A foto mostra dois habitantes do Cerrado: à esquerda, o rato silvestre Oryzomys scotti;
Á direita, o Wiedomys cerradensis.
Quando um animal ou planta é encontrado apenas em determinada região, dizemos que ele é endêmico. No Brasil, o Cerrado – uma área de vegetação mista com cerca de dois milhões de quilômetros quadrados e que cobre parte dos estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Maranhão, Piauí, Tocantins, além de trechos da Amazônia, Caatinga e Mata Atlântica (nossa!) – tem muitas, mas muitas espécies endêmicas. Você sabe qual é a importância delas?
Para os biólogos, as espécies endêmicas são boas indicadoras da qualidade do ambiente e da sua preservação. Também são importantes nos estudos da evolução das espécies e da biogeografia, que é a tentativa de compreender a distribuição dos seres vivos no espaço e no tempo, unindo informações sobre a história do terreno e das rochas que formam a região com a história da evolução das espécies do mesmo lugar.
Pois é de algumas espécies de animais endêmicas do Cerrado que vamos lhe contar! Primeiro, é preciso dizer que o Cerrado apresenta cerca de 10.000 espécies de plantas e 1.268 espécies de animais. Recentemente, alguns pesquisadores reconheceram cerca de 200 espécies de mamíferos para o Cerrado, sendo que 20 são endêmicas, isto é, não existem em outro lugar. Entre as espécies endêmicas, cerca de 12 habitam exclusivamente as áreas abertas, enquanto que as demais vivem em áreas florestais ou ocorrem em ambos ambientes. Um detalhe importante é que a maioria das espécies de mamíferos endêmicas do Cerrado é composta por roedores! São 17 espécies de pequenos roedores e a maioria de habitantes quase exclusivos de áreas abertas.
A foto acima mostra uma paisagem típica do Cerrado, que apresenta um conjunto de vegetações bem variadas. Ali há áreas de formações campestres, com vegetação bem rasteira; áreas de formações savânicas, que misturam vegetação rasteira com arbustos e poucas árvores; e também áreas florestais, de mata mais densa com árvores altas e próximas umas das outras. O clima no Cerrado é tropical, com temperatura variando entre 20 e 22 graus, podendo chegar a 26 graus no extremo norte da região. As chuvas se concentradam em um período do ano, definindo assim duas estações: uma de clima seco, que geralmente se estende de maio a setembro, e outra conhecida mesmo como estação de chuvas, na qual mais de dois terços do total de chuvas ocorre, concentradas entre outubro e abril.
O Cerrado é considerado uma região de grande interesse científico por causa da alta diversidade e do nível de endemismo para vários grupos de animais e vegetais. O problema é que nas últimas cinco décadas o Cerrado, especialmente as áreas de vegetação rasteira e savânica, vêm sendo gradativamente substituído pelos proprietários de terras por áreas de pastos e lavoura mecanizada. Atualmente, apenas um quinto do Cerrado ainda preserva sua vegetação original e somente cerca de dois centésimos estão preservados em Unidades de Conservação de Proteção Integral (Estações Ecológicas, Parques Nacionais, Reservas Biológicas, Reservas Ecológicas e Refúgios da Vida Silvestre).
Um estudo brasileiro estima que, se o Cerrado continuar sendo desmatado com a mesma intensidade dos últimos anos, dentro de 25 anos não haverá mais Cerrado além das áreas dentro das unidades de conservação e terras indígenas atualmente existentes.
Então, considerando: que a maioria das espécies de mamíferos endêmicos do Cerrado habita exclusivamente as áreas abertas, que algumas dessas espécies apresentam pequena distribuição geográfica dentro dessas áreas e que os ambientes do Cerrado que mais vêm sendo substituídos por lavouras e pastagens são também as áreas abertas, é urgente a elaboração de estratégias de conservação e recuperação das áreas destruídas. A criação de novas unidades de conservação de proteção integral - como a RPPN Rio das Lontras, que de fato é de proteção integral - bem como a ampliação das já existentes e, ainda, a implantação de uma forte fiscalização seriam excelentes medidas a ser adotada pelas autoridades.
O Cerrado é considerado uma região de grande interesse científico por causa da alta diversidade e do nível de endemismo para vários grupos de animais e vegetais. O problema é que nas últimas cinco décadas o Cerrado, especialmente as áreas de vegetação rasteira e savânica, vêm sendo gradativamente substituído pelos proprietários de terras por áreas de pastos e lavoura mecanizada. Atualmente, apenas um quinto do Cerrado ainda preserva sua vegetação original e somente cerca de dois centésimos estão preservados em Unidades de Conservação de Proteção Integral (Estações Ecológicas, Parques Nacionais, Reservas Biológicas, Reservas Ecológicas e Refúgios da Vida Silvestre).
Um estudo brasileiro estima que, se o Cerrado continuar sendo desmatado com a mesma intensidade dos últimos anos, dentro de 25 anos não haverá mais Cerrado além das áreas dentro das unidades de conservação e terras indígenas atualmente existentes.
Então, considerando: que a maioria das espécies de mamíferos endêmicos do Cerrado habita exclusivamente as áreas abertas, que algumas dessas espécies apresentam pequena distribuição geográfica dentro dessas áreas e que os ambientes do Cerrado que mais vêm sendo substituídos por lavouras e pastagens são também as áreas abertas, é urgente a elaboração de estratégias de conservação e recuperação das áreas destruídas. A criação de novas unidades de conservação de proteção integral - como a RPPN Rio das Lontras, que de fato é de proteção integral - bem como a ampliação das já existentes e, ainda, a implantação de uma forte fiscalização seriam excelentes medidas a ser adotada pelas autoridades.
Alexandra Maria R. Bezerra
Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal
Departamento de Zoologia
Universidade de Brasília.
Pela Lei, a RPPN faz parte da categoria de Unidade de Conservação de Uso Sustentável (deixando, por exemplo, a moradia de pessoas dentro da área), mas de fato, faz parte da Proteção Integral, como a RPPN Rio das Lontras.
Fonte: Revista Ciência Hoje das crianças - Nº 164/Dezembro - Ano 2005
Fotos (para a CHC): Alexandra Bezerra
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