Sono animal!

O sono dos bichos!

Você já deve ter visto um gato tirar uma soneca. O gato adora dormir, especialmente se tiver um lugar quente e confortável. Ao Sol está ótimo. Se deixarem, ele pode dormir mais ou menos umas dezesseis horas por dia – muito mais do que a gente! Ele se enrola sobre si mesmo, apóia ou esconde a cabeça, fecha os olhos e nem se importa com o que acontece ao seu redor.
Com o que será que o cachorrinho está sonhando?

Foto: Bernado Esteves

De repente, repare: ele mexe as orelhas, as patas, os olhos e faz barulhos esquisitos com a boca, como se estivesse sonhando e miando no meio do sonho. E não é que está sonhando mesmo! O cachorro também mexe os olhos e chega a latir durante o sono. É evidente que ele está sonhando – sabe-se lá com o quê! Talvez o gato sonhe com ratos e o cachorro com gatos para perseguir ou com um bom osso para roer. Mas isso a gente nunca vai saber exatamente. Sabemos que eles sonham pelo jeito como se mexem no sono e também por ondas elétricas de seu cérebro que os cientistas captam com equipamentos especiais e que são rápidas e parecidas com as ondas que o nosso cérebro produz quando sonhamos. O ser humano não é o único que dorme todos os dias. Se eu perguntasse a você que animais dormem – fora nossos amigos gato e cachorro –, o que você responderia? Será que a girafa dorme? E dizer que o boi dorme é conversa para boi dormir? E o bicho preguiça? (Este, eu aposto, você vai dizer que dorme o tempo todo). E o golfinho? Se dorme, como é que não afunda na água? E o galo? (Este, a gente sabe que acorda bem cedo, mas será que dormia antes?) E o beija-flor, que parece que não pára de mexer? Bem, se respondeu sim em todos os casos, passou no teste! Mamíferos e aves dormem todos, de um jeito parecido como nós dormimos. Quando uma ave cai no sono, ela fica com os músculos mais moles, respira mais devagar e também demora mais a reagir se a gente cutucar. Pode enfia a cabeça debaixo da asa, que talvez seja para respirar um ar mais quente. Se for pernalta, pode ficar equilibrada numa perna só. Se for um pato, pode dormir flutuando na água. E ele também tem seus momentos de sonho, bem curtinhos, nos quais mexe os olhos e têm ondas cerebrais mais rápidas do que o normal. A gente pode dizer, então, que o sono tem duas fases, uma de ondas lentas e outra de ondas rápidas, que é a do sonho. Algumas aves podem dormir de olhos abertos ou apenas com um olho aberto, como se fosse um sono pela metade! Se dormem pouquinho tempo de cada vez é para ficarem atentas – se cochilarem demais da conta, um bicho comedor de passarinhos pode aproveitar e atacar! Dormiu demais, miau! Os mamíferos também têm no sono fases de ondas lentas e de ondas rápidas, mas variam um bocado na maneira como dormem que é para se adaptar às condições em que vivem. O bicho-preguiça (você tinha razão!) cochila e dorme quase o dia inteiro. Agarrado debaixo de um galho – sem cair, o danado – ou então sentado, cobrindo a cabeça com a pata. O cavalo dorme em pé, mas tem de se deitar na hora de sonhar porque os seus músculos ficam frouxos e, então, ele poderia cair. Outra que dorme em pé, e bem pouquinho, é a girafa: dá muito trabalho para ela se agachar e se levantar de novo, por isso, às vezes, ela prefere apoiar a cabeça num galho. O golfinho só não afunda na água porque dorme um pouco de cada lado: uma das metades de seu cérebro fica acordada e faz com que se mantenha à tona para respirar enquanto a outra adormece; depois, há a troca das metades. A baleia suspeita-se que não durma nunca, que fica apenas sonolenta – já imaginou o tamanho de sua sonolência! Bichos grandes não costumam dormir muito mesmo.

Hora de dormir!

Na natureza, tem hora para dormir e hora para ficar acordado. Os macacos (e nós, que também somos primatas) normalmente preferimos a noite para dormir. Mas há bichos que não se incomodam com a claridade e optam pelo período diurno ou então os que têm o seu sono distribuído em pequenas doses ao longo do dia. Essas preferências são próprias de cada espécie e seguem ritmos regulares controlados pelo cérebro. A televisão, por exemplo, que a gente gosta de assistir até tarde de noite pode, é claro, nos tornar mais noturnos e aí... Aí é duro acordar no dia seguinte! Os animais não dormem de qualquer jeito ou em qualquer lugar. Os gorilas e os orangotangos têm que fazer a cama antes de dormir. Os gorilas ajeitam folhas no chão, enquanto os orangotangos fazem isso lá no alto da árvore, numa forquilha que agüente o seu peso. Haja equilíbrio para dormir assim! Os hamsters gostam de acumular folhas (ou tiras de papel, se este for o único material disponível) formando uma bola dentro da qual se enfiam para dormir. Hamsters são limpinhos e não urinam no lugar em que dormem. As mães mamíferas deixam os filhotes dormirem junto com ela, dando proteção e aquecimento. Mas mesmo animais adultos gostam de ficar bem perto para dormir, como os bugios, na árvore de dormida, ou os camundongos, que se aglomeram um em cima do outro, em monte. Uma condição para dormir direito é estar num lugar seguro. Quem você acha que dorme mais, o predador (animal que caça outros bichos para comer) ou a presa (animal que tem de ficar esperto para não ser comido)? É claro que é o predador, porque está mais seguro. A onça dorme mais do que a zebra ‐ dá para entender o porquê. Os cientistas curiosos descobriram que formas de sono existem em outros animais, além dos mamíferos e das aves. A gente poderia dizer que peixes ou lagartos ou escorpiões ou moscas nunca dormem, mas talvez não seja bem verdade. Em primeiro lugar, esses animais não ficam em atividade o tempo todo, há períodos em que ficam parados, em descanso. Os períodos de atividade e de descanso ocorrem (como vimos que o sono ocorre) de forma regular e rítmica de acordo com a hora do dia. Será este descanso uma forma de sono? Esta é uma questão muito interessante à qual os cientistas estão tentando responder. Não dá para saber se um animal dorme apenas olhando se seus olhos estão fechados. A cobra não tem pálpebras e não fecha os olhos! Nem sempre dá para saber se o animal dorme apenas pela maneira como ajeita o seu corpo: uma mosca não se enrola para dormir como um gato! Mas há maneiras indiretas de saber. A gente pode cutucar o animal enquanto descansa e ver se ele demora a reagir. A gente também pode impedir o animal de descansar e ver se, depois, ele recupera o tempo perdido descansando um pouco mais (do mesmo jeito que a gente dorme mais no domingo, quando ficou acordado até tarde no sábado). Testes como esses foram feitos com moscas, abelhas, escorpiões, baratas, peixes, cobras e outros bichos, dando às vezes resultados positivos, indicando que estes bichos têm uma forma primitiva de sono, embora, até o momento, não se tenha nenhuma evidência de que sonhem. É fantástico pensar que formas de sono existem em muitas espécies e que a capacidade de dormir se desenvolveu em todas essas espécies ao longo de milhões de anos de evolução! Quando você colocar a cabeça no travesseiro, pense que você não está sozinho no mundo dos dormidores! Por que será que precisamos dormir, nós e muitas outras espécies? Não seria mais interessante uma vida sem sono, em que a gente pudesse estudar, trabalhar e, especialmente, se divertir o tempo todo? A ciência ainda não desvendou o mistério de porque se dorme, mas ela mostra muito claramente que não dá para pensar uma vida sem sono, que o sono é essencial e também os sonhos, que aparecem no meio dele. Além do mais, dormir é bom demais. Agora que terminei de escrever esse texto, estou com uma sensação gostosa de sono. Estou me espreguiçando. Acho que vou... Zzzzzzzz

Fonte e fotos: Revista Ciência Hoje das crianças - Nº 152/Novembro - Ano 2004