quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Quem é dedo-duro?

Geralmente, no dia-a-dia, tendemos a repassar fofocas, dedo-duramos as pessoas, causando inimizades, brigas, apontando para o outro defeitos enquanto não olhamos para os nossos, muitos colocam apelidos nas pessoas sem mais nem menos, sem olhar para si um pouco, refletir no que está fazendo, e como ele se sentiria na mesma situação. O texto abaixo dá uma boa idéia sobre o assunto.


Uma classe do barulho!
Fanny Abramovich

A professora entrou na classe, colocou os livros na mesa, olhou para o quadro negro. Quase teve um ataque! A lousa cheinha de frases, desenhos, caricaturas, versinhos. Rabiscos e maior capricho se misturando. Desenhos começados de um jeito e continuados de outro, frases incompletas e estrofes inteirinhas. Um painel divertido feito de giz colorido e todo tipo de idéias.
A professora não achou a menor graça. Fechou a cara, ergueu o nariz, levantou a voz. Alta, bem alta. Queria saber quem tinha feito tudo aquilo. Na sala, silêncio total! Exigiu que o culpado se apresentasse. Cruzou os braços e esperou. Ninguém se mexeu na carteira. Todos olhando para a lousa. Ela perdeu a paciência. Ameaçou dar zero para toda a classe se o responsável pela gracinha sem graça não aparecesse naquele minuto. O silêncio aumentou. Alguém tossiu, todos olharam. Depois, outro espirrou e todos tremeram. Quase se ouvia o nervoso. Maior tensão!
De repente, Tiago se levantou e deu um passo para a frente, querendo dizer que tinha sido ele. Todo mundo olhou. Ele nem tinha participado da brincadeira. Um minuto depois, foi a Ana quem ficou em pé. Cabeça erguida, firmeza, sabendo o que estava fazendo. Outro susto na classe. Ela nem estava na sala quando tudo começou. Daí se levantaram dois meninos e uma menina. Justamente os que tinham medo de que desse o maior galho.
A professora esbravejou. Sabia muito bem que tinham sido uns cinco ou seis alunos que tinham feito tudo aquilo, e difilcimente os que se apresentaram como responsáveis. Os corações apertaram. Outros se levantaram. Um, depois outro, depois mais outro. Levantando e dando um passo para a frente. Foi bonito pra danar! Paulo arrepiou. Também ficou de pé, orgulhoso. Aí, todos se levantaram juntos, como se tivessem combinado a hora certa. Todos de pé, todos se dizendo responsáveis pelo o que estava no quadro negro. Maior demonstração de união da classe.
Os que tinham desenhado, os que foram meio contra, os que tinham escrito, os que nem estavam lá, os que não estavam prestando a atenção naquela baguncinha, os que repetiram o que foi feito numa aula de artes supergostosa, os que queriam irritar a professora, os que achavam que estavam fazendo um baita enfeite na sala, os que fizeram um recreio diferente. Todos!
Muitos tinham desenhado e escrito, muitos dado palpites e idéias, muitos animando que estava na lousa. Quase todos se divertindo. Ninguém tinha apagado, impedindo a brincadeira, e ninguém imaginou que ia dar naquele tremendo bafafá.
Algumas perguntas, uma grande risada, um sorriso amarelo ou uma bronquinha, no maxímo. Não aquele escarcéu todo por uma coisa que se vivia fazendo na escola, na cidade. Não era grafite de rua, difícil de limpar e de novo de branquear. Era um painel com giz que só precisava de um apagador para sumir.
De um jeito ou de outro, todos se sabiam responsáveis. Ninguém dedo-durou os que fizeram, ninguém deixou só alguns levarem a culpa. Uma classe do barulho!

Fanny Abramovich nasceu na cidade de São Paulo. É professora e escritora, sendo autora de mais de 40 títulos. "Uma classe do barulho!" é um capítulo de seu livro "Sai para lá dedo-duro", publicado pela Editora Moderna.

É claro que várias vezes é necessário contar para outra pessoa o que a outra fez, como roubo, ou qualquer coisa séria, ou nem isso, se for preciso. É preciso ter idéia sobre o que se faz.

E mais amizades e menos inimizades! Viva!

Fonte (texto principal): Revista Ciência Hoje para crianças.
Fotos: Divulgação.

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