domingo, 15 de março de 2009

De olho na geladeira (e na TV)


Nesta semana, o Instituto Alana e o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) divulgaram uma pesquisa que promete fazer muita gente pensar melhor sobre os alimentos feitos para crianças e as propagandas desses produtos.

Na pesquisa, foram estudadas 12 empresas que fabricam alimentos e bebidas voltadas para o público infanto-juvenil, vendidos em vários países do mundo. Essas empresas se comprometeram em outros países e junto à OMS (Organização Mundial de Saúde) a fazerem produtos mais saudáveis e a mudarem o jeito como fazem propaganda deles para crianças.

Por exemplo, as empresas iriam fazer bolachas, sanduíches e sucos com menores quantidades de açúcares, gorduras e calorias. Além disso, elas não iriam fazer propagandas para menores de 12 anos quando o produto não seguisse essas regras de alimentação saudável.

E foram as próprias empresas que estabeleceram essas regras. Até quando o assunto era decidir o que era um alimento saudável, eram elas que diziam quais eram os níveis ideais de gorduras e açúcares, por exemplo.

Só que, segundo a pesquisa dos dois institutos, essas empresas não seguem esse mesmo modelo nos produtos que vendem no Brasil. É que, aqui, elas fazem propagandas voltadas para o público infantil e também vendem produtos que não seguem as regras do que elas disseram ser saudável nesses compromissos.

Confira exemplos de empresas e produtos divulgados na pesquisa:

>> O combo BKids, da lanchonete Burger King, tem mais calorias, mais sódio e mais gorduras do que a empresa estabeleceu como sendo saudável nos compromissos. E, se a rede de fast food seguisse aquelas regras, não faria propaganda desse combo para crianças.

>> Em outros países, a Coca-Cola se comprometeu em não anunciar qualquer produto para crianças menores de 12 anos, independentemente de serem saudáveis ou não. Mas, por aqui, ela faz propagandas dos sucos Kapo e tem no ar um site cheio de joguinhos e coisas para crianças.

>> O Danoninho, da Danone, também não segue as normas de alimentação saudável que a empresa prometeu seguir em outros países: aqui, ele tem mais calorias e mais gorduras.

>> A Ferrero é outra empresa que disse que não faria propagandas para o público infantil. Mas, no Brasil, a empresa tem um site para o Kinder Ovo, cheio de joguinhos, sem contar o personagem que chama bastante a atenção das crianças.

>> O Sucrilhos, da Kellog’s, até atende os critérios de alimentação saudável que a empresa segue no exterior, só que eles são mais flexíveis e permitem que o produto tenha uma quantidade um pouco elevada de açúcar e de sódio.

>> Se a Kraft Foods aplicasse no Brasil as mesmas regras que adotou em outros países, ela não poderia fazer propaganda aqui dos biscoitos Trakinas. É que o site e as propagandas do produto são feitas para chamar bastante a atenção das crianças. Também porque ele tem mais calorias e gorduras e menos vitaminas e minerais do que a empresa considera saudável nos compromissos em outros países.

>> O McLanche Feliz, do McDonald’s, também não segue o que a lanchonete diz que é saudável nos compromissos internacionais. Se o combo vier acompanhado de suco de laranja, por exemplo, ele tem mais gorduras e 600 calorias a mais do que o limite.

>> O Toddynho vendido no Brasil também tem mais gorduras do que a Pepsico estabeleceu como sendo saudável nos acordos internacionais.

>> Desde março do ano passado, a Cadbury Adams se comprometeu em outros países a não fazer propaganda para crianças menores de 12 anos. Mas, por aqui, tem um site para o Bubbaloo cheio de joguinhos e até um personagem próprio.

>> A Nestlé anunciou que iria adotar as regras que usa lá fora aqui no Brasil, mas isso ainda não aconteceu. Ela continua fazendo propaganda para quem tem menos de seis anos, e o Snowflakes, por exemplo, tem mais açúcar e mais sódio do que os limites da empresa.


E daí?

E qual é o problema de comer alimentos com mais açúcares, sódio e gorduras do que o que é considerado saudável? É um baita problemão.

Segundo o cardiologista e nutrólogo do Hospital do Coração Carlos Daniel Magnoni, quando consumidos em excesso, esses alimentos estão ligados a doenças como diabetes, níveis elevados de colesterol, hipertensão e obesidade.

Além disso, como as propagandas associam esses alimentos a personagens conhecidos, a sites com joguinhos ou a comerciais divertidos, eles acabam fazendo com que você consuma quantidades maiores do que deveria.

"Não se pode associar alimentação com diversão", explica. "Esses alimentos não precisam deixar de existir, mas as pessoas precisam aprender a se alimentar de maneira equilibrada. O jeito como as propagandas são feitas só confundem e fazem com que elas adquiram hábitos não saudáveis."

Nem todo mundo concorda. Stalimir Vieira, assessor especial da presidência da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade, diz que o problema não são as propagandas dos alimentos, mas a qualidade deles. "A questão não é proibir a publicidade, mas, se dizem que estão anunciando veneno, então tem que analisar bem do que são feitos esses alimentos. Não se pode vender veneno. Se o alimento fosse saudável, não veriam problemas na propaganda", diz o publicitário, dando como exemplo as maçãs que levam a marca da Turma da Mônica.

E ainda tem os brinquedinhos

Além dessa discussão aí de cima, lanchonetes de fast food como o Burger King, o Bob’s e o McDonald’s também estão no centro dos debates dos especialistas por causa dos kits que incluem brinquedos nas promoções de sanduíche. Na reportagem de Clarice Cardoso da Folhinha de amanhã, você vai entender porque esse tipo de brinde pode estar com os dias contados.

Fonte & Fotos: Blog da Folhinha.

Foto (inicial): Pesquisa Google.

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