São Paulo, setembro de 2001
Diz o "UOL Horóscopo" sobre aquário: "Sua função é encontrar meios racionais para que a maior quantidade possível de pessoas possa usufruir de tudo o que foi criado. Usa a racionalidade e confia na mentalidade das pessoas enquanto coletividade. Pode defender soluções violentas para os problemas sociais. Na melhor das hipóteses, ele é um inventor, alguém que está sempre adiante de seu tempo, principalmente na moda, na literatura, na política e na história. Nas profissões, está na linha de frente da empresa de tecnologia de ponta, tentando descobrir como fazer com que o maior número de pessoas tenha acesso às descobertas científicas. Também está presente na política, com ideias revolucionárias que podem chocar os mais conservadores".
São Paulo é aquário. De cultura, carros, cimento e gente procurando alento. Elemento ar (poluído), cores azul-céu (nunca visto) e o negro-azulado (talvez a verdadeira cor de seu firmamento). Uma aquariana que não tem mais água e seus peixes (que vem em seguida no zodíaco).
Acho que gosto de São Paulo (gosto de São João, gosto de São Francisco e São Sebastião). Da gastronomia, do sotaque, dos espetáculos, do Tricolor Paulista e da minha querida tia, na rua da Simpatia.
Mas o copo da cidade anda meio vazio. Sampa chora (seco) nos altos do Tietê, Cotia, Rio Grande (que anda pequeno), Rio Claro (escuro de poluição), Guarapiranga e Billings. E de presente de aniversário recebe a notícia de que a Cantareira completa duas semanas seguidas de queda no volume de suas represas. Água do volume morto não é água de beber, camará.
É o fundo do poço, é o fim do caminho, já cantava Tom Jobim - que declarou seu amor por São Paulo e, por sinal, também aniversaria hoje.
É, Tom. Em tempos de mudanças climáticas, onde São Paulo só recebe 35,4% das chuvas de janeiro, talvez as águas de março já não sejam mais a promessa de vida no nosso coração. Talvez tudo o que paulistas mais queiram agora é uma conversa ribeira e o fim da canseira. Água agora é apenas um pingo pingando, é uma conta (a se pagar), é um conto.
É, Sampa. Falta clima para lhe parabenizar pelos 461 aninhos. Só vejo em vista racionamento (ou racionalização, como diz o dicionário do governo, mais bonito). Mas onde está toda a racionalidade nas ações coletivas que seu signo indica? Não dá para acreditar nessas coisas mesmo.
Só sei que alguma coisa acontece no meu coração quando leio essas lastimáveis notícias daqui de Santa Catarina, onde a água ainda não falta.