GABRIELA CUPANI
da Folha de S.Paulo
Crianças e adolescentes brasileiros são mais altos, em média, do que os americanos na faixa etária entre os sete e os 17 anos. Isso é o que revela um estudo inédito conduzido por pesquisadores das universidades federais do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
A pesquisa também mostrou que a maturação biológica (como a chegada à puberdade) dos brasileiros e brasileiras acontece mais precocemente em relação aos americanos e que os americanos alcançam os brasileiros por volta dos 14 anos.
O trabalho, que faz parte do projeto Esporte Brasil -observatório de indicadores de crescimento e desenvolvimento corporal, motor e do estado nutricional de crianças e jovens-, gerou uma proposta de curvas de estatura, peso e índice de massa corporal especificamente para crianças brasileiras.
Até agora, só havia iniciativas antigas e isoladas, criadas com dados de regiões específicas, para criação de uma curva de crescimento nacional.
"Médicos pediatras e outros profissionais da saúde no Brasil utilizam as curvas de crescimento dos CDCs [crianças e jovens americanos] para avaliar as nossas. E as pesquisas daqui demonstram que nossas curvas de crescimento são distintas das americanas", enfatiza Adroaldo Gaya, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenador do Projeto Esporte Brasil.
Trata-se do primeiro estudo que utilizou uma amostra de escolares, representativa dessa população, com o objetivo de comparar estudantes brasileiros com parâmetros de crescimento internacionais.
A comparação dos valores de estatura, peso e índice de massa corporal com os valores de referência da Organização Mundial da Saúde e dos CDCs (Centers for Disease Control and Prevention, dos Estados Unidos) mostrou que os jovens brasileiros atingiram ou ultrapassaram os pontos de referência na maioria das idades.
Crescimento do país
Os autores avaliaram dados de 41.654 alunos de escolas públicas e privadas de todas as regiões brasileiras. As informações foram coletadas por professores de educação física de cada escola que aderiu ao projeto -a maioria está situada na zona urbana.
"Queríamos verificar se o crescimento físico das crianças e adolescentes brasileiros estava aquém ou além das curvas internacionais", diz Diego Augusto Santos Silva, professor do programa de pós-graduação em educação física da Universidade Federal de Santa Catarina e um dos autores do estudo.
Segundo ele, duas ou três décadas atrás o crescimento brasileiro estava abaixo dos padrões internacionais.
Uma das hipóteses que explicam a mudança é o crescimento do país e a melhora nas condições de vida. O padrão de crescimento das crianças seria um reflexo disso.
"As crianças brasileiras estão crescendo mais porque estão mais saudáveis. A puberdade também está sendo antecipada", diz Romolo Sandrini, presidente do Departamento Científico de Endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. "Sem dúvida, o fato de as curvas estarem mais próximas das internacionais é um indicativo de saúde das nossas crianças", diz. Segundo ele, isso se deve a fatores como melhoras no aleitamento materno e na cobertura da vacinação.
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